domingo, 18 de maio de 2014

Uma comparação entre as Rolhas de cortiça e as sintéticas: como as “screw caps” - O TCA e os seus efeitos

Segundo Moreira (2010), no mercado dos vinhos, o aumento dos problemas causados pelo «gosto a rolha» desencadeou uma revolução no mercado de vedantes. Apesar do aumento significativo da qualidade das rolhas de cortiça, hoje em dia existem já vários países e produtores de vinho que optam pelos vedantes alternativos em detrimento da rolha de cortiça.

Em geral, pode dizer-se que as rolhas de cortiça têm várias vantagens em relação às sintéticas, como a vantagem de serem mais porosas e permitirem uma evolução melodiosa do vinho de guarda, para além de serem mais “elegantes”. Contudo têm desvantagens: como o seu preço superior e a possibilidade de deixarem odores a TCA (J.P.D 2008).

Por sua vez, as “screwcaps” – um exemplo das rolhas sintéticas -, têm as vantagens de serem mais práticas de abrir e de terem um bom sistema de vedação. A principal desvantagem é a possibilidade de deixarem um odor a enxofre no vinho, ainda dentro das considerações de J.P.D (2008).
Muitos defendem a utilização das rolhas de cortiça, em detrimento das rolhas sintéticas. Os principais produtores de vinho portugueses tendem, assim, a sua preferência para a cortiça - até pela importância que a indústria corticeira tem em Portugal -, mas a realidade pode mudar (Freire, 2011). Neste, como na maioria dos produtos, mandam as leis do mercado (o que o cliente quer e a matéria-prima disponível), e há que optar pela solução que provar ser a melhor em nome do vinho (J.P.D. 2008).

As origens da utilização da cortiça são de à muito tempo: esta matéria-prima, proveniente do sobreiro, é utilizada numa infinidade de objetos do quotidiano. As potencialidades da cortiça continuam a ser reconhecidas e, num mundo em que a inovação e a ecologia passaram a andar de mãos dadas, este material desperta o interesse de variadíssimos sectores, no que diz respeito à progressão na procura de novas aplicações em diferentes materiais e produtos, segundo Gil (s/d). As rolhas de cortiça são a escolha clássica na questão do que se passa entre o produtor e o seu vinho. No entanto, tem havido provas que mostram que não é tão simples a escolha entre as rolhas de cortiça e tampas de rosca (Almeida, 2009).
Conforme Almeida (2009), a indústria de cortiça possui uma série completa de rolhas, disponíveis em diferentes tamanhos e formatos, por norma a adaptarem-se às diversas de garrafas e a todos os tipos de vinhos. As rolhas de cortiça tem assim as seguintes categorias:
Rolhas naturais;
Rolhas naturais multipeça;
Rolhas naturais colmatadas;
Rolhas de champanhe;
Rolhas técnicas;
Rolhas aglomeradas;

Rolhas capsuladas.

As rolhas de cortiça tem sido a escolha preferida para fechar o vinho. A cortiça é um dos poucos produtos naturais que é maleável o suficiente para armazenar o conteúdo dentro de uma garrafa de vidro. Conforme diferentes autores, mas realçado por Puckette (2014), existe um conjunto único de prós (um recurso natural renovável; historicamente preferido; envelhecimento comprovado) e contras (1-3% afetados por TCA; recurso natural limitado; qualidade variável; sendo a respiração das rolhas naturais de taxa variável), que a cortiça natural engloba.
Embora a rolha de cortiça é para já a opção A há, teoricamente, vantagens das rolhas sintéticas a nível químico, contudo há outras questões a ter em conta no processo de escolha do tipo de rolhas, nomeadamente os fenómenos de evolução da garrafa ou da microxigenação[1] (J.P.D., 2008). Isto vai de encontro com Afonso (2009), os efeitos das rolhas de cortiça e das rolhas sintéticas na qualidade do vinho ainda não estão totalmente clarificados: por esse motivo, sem sabermos tudo sobre os vedantes é difícil avançar para alternativas. Mas, conforme se tem constatado, a rolha sintética pode ser uma boa alternativa para vinhos que são consumidos de imediato, para vinhos brancos e rosés. Nesses vinhos, a rolha sintética tem uma vantagem económica e técnica, e não interfere nas características do vinho, porque este é para se consumir jovem, por J.P.D. (2008).
Ainda em concordância com o mesmo autor, quanto aos vinhos tintos a tradição avassala a modernidade existem sérias dúvidas que as “screwcaps” sejam uma alternativa viável nestes vinhos. Além disso, para o consumidor mediterrânico, em particular, é difícil aceitar um vinho que não seja vedado com rolha de cortiça.

J.P.D. (2008) escreve que a baixa permeabilidade da “screwcap” (rolha de rosca) em vinho, é algo que suscita grande controvérsia desde a introdução deste tipo de rolhas nos vinhos da Austrália e da Nova Zelândia. Critica-se a utilização das “screwcaps” - as rolhas sintéticas – devido ao seu impacto provocado no pós-engarrafamento e em condições próximas da anaerobiose. Isto devido à ocorrência de reações químicas na ausência de oxigénio, que desenvolvem "aromas estranhos nos vinhos"[2]. Assim sendo, no engarrafamento dos vinhos a tradicional rolha de cortiça para a manutenção da qualidade é defendida. Ainda relativo o mesmo autor, a utilização das screwcaps foi exponenciada devido um período de produção de cortiça com menor qualidade durante a década de 1980. As rolhas passaram a ter baixa qualidade devido ao TCA[3] da cortiça. Sendo o principal responsável pelos gostos e sabores do vinho o TCA: não é tóxico nem perigoso para o ser humano nas concentrações em que normalmente se encontra no vinho mas deprecia bastante o produto a consumir, Anónimo (2014).



[1] A micro-oxigenação é uma técnica que começou a ser usada com o propósito de ser uma alternativa ao amadurecimento - ou envelhecimento - do vinho. Consiste em acrescentar uma pequena quantidade de oxigénio ao vinho melhorando sua cor, sua suavidade e seu equilíbrio sempre de forma controlada.

[2]  Como o enxofre.
[3] O TCA é o problema do odor a mofo nas rolhas de cortiça, um dos pontos mais problemáticos da indústria rolheira e vinícola mundial. O TCA é dificilmente removido devido em primeiro lugar à sua fraca volatilidade e por outro lado devido às características intrínsecas da cortiça: impermeabilidade a gases e líquidos, isolante térmico e elétrico e absorvedor acústico e vibrático. Os métodos de eliminação do TCA publicados utilizam diferentes processos: químicos, físicos, físico-químicos e biológicos. Uns focalizam a atenção na eliminação das causas – eliminação dos microrganismos presentes e/ou presença de agentes clorados, enquanto outros métodos atuam diretamente sobre os níveis de TCA presentes na cortiça (Anónimo, 2014).

Por Puckette (2014), os prós das rolhas de rosca (opção mais acessível; doença do TCA; estudos de envelhecimento a longo prazo têm mostrado resultados positivos; “screwcaps” são fáceis de abrir) e contras (algumas alternativas de cortiça não respiram; feitos de recursos não-renováveis; reciclável, mas não biodegradável; variável qualidade manufacturação; associado a vinho “barato”) são postos na mesa e balanceados nas várias alternativas às rolhas de cortiça.


Cuidados atuais da indústria rolheira     
Embora os produtores de cortiça utilizem vários procedimentos de esterilização das rolhas durante o processamento e a embalagem, pode haver pontos secundários de contaminação. As rolhas esterilizadas podem ser misturadas com rolhas contaminadas ou mesmo os pavimentos ou paletes de madeira no transporte podem estar contaminados: por exemplo, quando os bolores encontram condições propícias de temperatura e humidade começam a desenvolver-se e os subprodutos do seu desenvolvimento podem formar derivados do TCA, o principal agente dos gostos e/ou aromas negativos nas rolhas (Pereira e Gil, 2006).

Em suma, o crítico geral de vinhos (J.P.D., 2008) considera que o vedante sintético altera o vinho e não preserva nem "a sua alma nem as suas características genéticas". De acordo com Fernandes (2007), “a utilização de diferentes tipos de vedantes provoca alterações na composição físico-química dos vinhos, conferindo-lhes características organoléticas diferentes”, nomeadamente a nível da cor e de aromas. Estas alterações tornam-se mais evidentes em períodos de maturação/envelhecimento do vinho em garrafa mais longos.
Contudo, segundo Fernandes (2007), entre os vinhos engarrafados com vedantes screw-cap e com rolha de cortiça natural não se verificaram diferenças muito significativas nos parâmetros polifenólicos. No entanto, a maior difusão de oxigénio através da rolha de cortiça confere aos vinhos uma evolução mais benéfica: uma melhor capacidade de envelhecimento e maturação.
No entanto, os avanços tecnológicos levaram ao aparecimento de novos vedantes alternativos que evidenciam propriedades físicas melhoradas, assim sendo, é necessário que as entidades do sector, nomeadamente produtores e distribuidores, percebam que atualmente se trava um combate com outro produto (o plástico) e não um combate entre marcas, J.P.D. (2008). Contudo, a indústria corticeira tem força por uma tradição de associação ao vinho, e isso dá uma imensa vantagem.




 Por: Nélia Gonçalves, Tânia Martins e Fábio Machado

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