Segundo Moreira
(2010), no mercado dos vinhos, o aumento dos problemas causados pelo «gosto a
rolha» desencadeou uma revolução no mercado de vedantes. Apesar do aumento
significativo da qualidade das rolhas de cortiça, hoje em dia existem já vários
países e produtores de vinho que optam pelos vedantes alternativos em detrimento
da rolha de cortiça.
Em geral, pode dizer-se que as
rolhas de cortiça têm várias vantagens em relação às sintéticas, como a
vantagem de serem mais porosas e permitirem uma evolução melodiosa do vinho de
guarda, para além de serem mais “elegantes”. Contudo têm desvantagens: como o
seu preço superior e a possibilidade de deixarem odores a TCA (J.P.D 2008).
Por sua vez, as “screwcaps” – um
exemplo das rolhas sintéticas -, têm as vantagens de serem mais práticas de
abrir e de terem um bom sistema de vedação. A principal desvantagem é a
possibilidade de deixarem um odor a enxofre no vinho, ainda dentro das
considerações de J.P.D (2008).
Muitos defendem
a utilização das rolhas de cortiça, em detrimento das rolhas sintéticas. Os
principais produtores de vinho portugueses tendem, assim, a sua preferência
para a cortiça - até pela importância que a indústria corticeira tem em
Portugal -, mas a realidade pode mudar (Freire, 2011). Neste, como na maioria
dos produtos, mandam as leis do mercado (o que o cliente quer e a matéria-prima
disponível), e há que optar pela solução que provar ser a melhor em nome do
vinho (J.P.D. 2008).
As origens da utilização da cortiça são de à muito tempo: esta
matéria-prima, proveniente do sobreiro, é utilizada numa infinidade de objetos
do quotidiano. As potencialidades da cortiça continuam a ser reconhecidas e,
num mundo em que a inovação e a ecologia passaram a andar de mãos dadas, este
material desperta o interesse de variadíssimos sectores, no que diz respeito à
progressão na procura de novas aplicações em diferentes materiais e produtos,
segundo Gil (s/d). As rolhas de cortiça são a
escolha clássica na questão do que se passa entre o produtor e o seu
vinho. No entanto, tem havido provas que mostram que não é tão simples a
escolha entre as rolhas de cortiça e tampas de rosca (Almeida, 2009).
Conforme Almeida (2009), a indústria de
cortiça possui uma série completa de rolhas, disponíveis em diferentes tamanhos
e formatos, por norma a adaptarem-se às diversas de garrafas e a todos os tipos
de vinhos. As rolhas de cortiça tem assim as seguintes categorias:
Rolhas naturais;
Rolhas naturais multipeça;
Rolhas naturais colmatadas;
Rolhas de champanhe;
Rolhas técnicas;
Rolhas aglomeradas;
Rolhas capsuladas.
As rolhas de
cortiça tem sido a escolha preferida para fechar o vinho. A cortiça é um
dos poucos produtos naturais que é maleável o suficiente para armazenar o
conteúdo dentro de uma garrafa de vidro. Conforme diferentes autores, mas realçado
por Puckette (2014), existe
um conjunto único de prós (um recurso natural renovável; historicamente
preferido; envelhecimento comprovado) e contras (1-3% afetados por TCA; recurso
natural limitado; qualidade variável; sendo a respiração das rolhas naturais de
taxa variável), que a cortiça natural engloba.
Embora a rolha de
cortiça é para já a opção A há, teoricamente, vantagens das rolhas sintéticas a
nível químico, contudo há outras questões a ter em conta no processo de escolha
do tipo de rolhas, nomeadamente os fenómenos de evolução da garrafa ou da microxigenação[1] (J.P.D., 2008). Isto vai
de encontro com Afonso (2009), os efeitos das rolhas de cortiça e das rolhas
sintéticas na qualidade do vinho ainda não estão totalmente clarificados: por
esse motivo, sem sabermos tudo sobre os vedantes é difícil avançar para
alternativas. Mas, conforme se tem constatado, a rolha sintética pode ser uma
boa alternativa para vinhos que são consumidos de imediato, para vinhos brancos
e rosés. Nesses vinhos, a rolha sintética tem uma vantagem económica e técnica,
e não interfere nas características do vinho, porque este é para se consumir
jovem, por J.P.D. (2008).
Ainda em concordância
com o mesmo autor, quanto aos vinhos tintos a tradição avassala a modernidade
existem sérias dúvidas que as “screwcaps” sejam uma alternativa viável nestes
vinhos. Além disso, para o consumidor mediterrânico, em particular, é difícil
aceitar um vinho que não seja vedado com rolha de cortiça.
J.P.D. (2008) escreve que a baixa permeabilidade da “screwcap” (rolha de rosca) em vinho, é algo que
suscita grande controvérsia desde a introdução deste tipo de rolhas nos vinhos
da Austrália e da Nova Zelândia. Critica-se a utilização das “screwcaps” - as
rolhas sintéticas – devido ao seu impacto provocado no pós-engarrafamento e em
condições próximas da anaerobiose. Isto devido à ocorrência de reações químicas
na ausência de oxigénio, que desenvolvem "aromas estranhos nos
vinhos"[2].
Assim sendo, no engarrafamento dos vinhos a tradicional rolha de cortiça para a
manutenção da qualidade é defendida. Ainda relativo o mesmo autor, a utilização das screwcaps foi
exponenciada devido um período de produção de cortiça com menor qualidade
durante a década de 1980. As rolhas passaram a ter baixa qualidade devido ao TCA[3]
da cortiça. Sendo
o principal responsável pelos gostos e sabores do vinho o TCA: não é tóxico nem
perigoso para o ser humano nas concentrações em que normalmente se encontra no
vinho mas deprecia bastante o produto a consumir, Anónimo (2014).
[1] A micro-oxigenação é
uma técnica que começou a ser usada com o propósito de ser uma alternativa ao
amadurecimento - ou envelhecimento - do vinho.
Consiste em acrescentar uma pequena quantidade de oxigénio ao vinho melhorando sua cor, sua
suavidade e seu equilíbrio sempre de forma controlada.
[2] Como o enxofre.
[3]
O TCA é o problema do odor a mofo nas rolhas de cortiça, um dos pontos mais
problemáticos da indústria rolheira e vinícola mundial. O TCA é dificilmente
removido devido em primeiro lugar à sua fraca volatilidade e por outro lado
devido às características intrínsecas da cortiça: impermeabilidade a gases e
líquidos, isolante térmico e elétrico e absorvedor acústico e vibrático. Os
métodos de eliminação do TCA publicados utilizam diferentes processos:
químicos, físicos, físico-químicos e biológicos. Uns focalizam a atenção na
eliminação das causas – eliminação dos microrganismos presentes e/ou presença
de agentes clorados, enquanto outros métodos atuam diretamente sobre os níveis
de TCA presentes na cortiça (Anónimo, 2014).
Por Puckette (2014), os prós das rolhas de rosca (opção mais
acessível; doença do TCA; estudos de envelhecimento a longo prazo têm mostrado
resultados positivos; “screwcaps” são fáceis de abrir) e contras (algumas alternativas
de cortiça não respiram; feitos de recursos não-renováveis; reciclável, mas não
biodegradável; variável qualidade manufacturação; associado a vinho “barato”) são
postos na mesa e balanceados nas várias alternativas às rolhas de cortiça.
Cuidados
atuais da indústria rolheira
Em suma, o crítico geral
de vinhos (J.P.D., 2008) considera que o vedante sintético altera o vinho e não
preserva nem "a sua alma nem as suas características genéticas". De
acordo com Fernandes (2007), “a utilização de diferentes
tipos de vedantes provoca alterações na composição físico-química dos vinhos,
conferindo-lhes características organoléticas diferentes”, nomeadamente a nível
da cor e de aromas. Estas alterações tornam-se mais evidentes em períodos de
maturação/envelhecimento do vinho em garrafa mais longos.
Contudo, segundo
Fernandes (2007), entre os vinhos engarrafados com vedantes screw-cap e com
rolha de cortiça natural não se verificaram diferenças muito significativas nos
parâmetros polifenólicos. No entanto, a maior difusão de oxigénio através da
rolha de cortiça confere aos vinhos uma evolução mais benéfica: uma melhor
capacidade de envelhecimento e maturação.
No entanto, os
avanços tecnológicos levaram ao aparecimento de novos vedantes alternativos que
evidenciam propriedades físicas melhoradas, assim sendo, é necessário que as entidades do sector, nomeadamente
produtores e distribuidores, percebam que atualmente se trava um combate com
outro produto (o plástico) e não um combate entre marcas, J.P.D. (2008).
Contudo, a indústria corticeira tem força por uma tradição de associação ao
vinho, e isso dá uma imensa vantagem.
Por: Nélia
Gonçalves, Tânia Martins e Fábio Machado
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