domingo, 18 de maio de 2014

Sumo de Uva

Já antes do famoso caso do Paradoxo Francês de Serge Renaud, que se tem vindo a apregoar os benefícios para a saúde do vinho. Ao longo do tempo este tem sido um alimento comum e também um remédio. Durante muito tempo foi utilizado misturado com água para matar a sede já que era a bebida mais higiénica, sendo mais seguro beber vinho diluído do que apenas água. (Winetag B., 2011)
O vinho tem álcool, fazendo com que a circulação sanguínea seja facilitada e diminui o mau colesterol (lipoproteína de baixa densidade ou LBD) no sangue. Contudo terá de ser tido em atenção que o vinho não só acarreta benefícios para a saúde (quando bebido regularmente em pequenas quantidades) devido ao álcool, também os fenóis tem aqui um papel importante. É devido maioritariamente aos fenóis presentes no vinho, especialmente no vinho tinto, que se consegue explicar o aumento dos efeitos positivos desta bebida em detrimento de outras bebidas alcoólicas: aumento da longevidade e proteção do cérebro e do sistema cardiovascular. “Este componente tem um efeito protetor nos vasos capilares e no colagénio das paredes dos vasos sanguíneos... Retarda a agregação de plaquetas evitando desta forma a formação de coágulos, têm poderosas propriedades antioxidantes, que inibem a degradação da parede das células, tanto nas artérias coronárias quanto no cérebro.” (Winetag B., 2011)
De acordo com Diniz T., o composto polifenólico advém da resposta à exposição fúngica pela casca da uva e “protege o sistema cardiovascular ao inibir a oxidação do colesterol, a agregação plaquetária, e promover o relaxamento vascular, melhorando, também, a pressão arterial.” (DINIZ T., 2013)
Vinho ou sumo de uva? E porque não o sumo, visto conter os mesmos benefícios do vinho sem os maleficios do álcool que também contém mais calorias? Têm sido perguntas bastante discutidas atualmente. A preocupação crescente com a saúde aliada aos avanços do conhecimento e marketing tem suscitado uma crescente procura por sumo de uva. O sabor do sumo de uva é o resultado da combinação de açucares, ácidos, antranilato (composto responsável pelo aroma a uva), esteres voláteis, aldeídos, compostos minerais ( P, Na, Ca, K, Fe, Cu e Mn), para além dos composto da uva como as vitaminas B7, B3, B5, B6, B1, B2, C, B12, B9, a colina e o inositol. O consumo deste sumo tem vindo a crescer, colocando o exemplo dos E.U.A. é fácil perceber a evoluçao do mercado. O consumo anual per capita em 1930 era de 0,16l, em 1970 de 0,47l e em 1998 de 0,73l. (Morris J.,1998))
O sumo de uva começou a ter o seu lugar depois do vinho, tendo sido obtido e conservado de formas distintas até hoje.
De acordo com o sítio académico ebah.com.br, Os Gregos e Romanos utilizavam o sumo de uva como substituto do mel, sendo concentrado e conservado com calor, cozido lentamente para reduzir o volume à concentração pretendida. Muitos anos mais tarde deu-se uma revolução do método com Louis Pasteur (1822-1895), que identificou os princípios do processo conhecido como Pasteurização e permitiu que o sumo de uva fosse conservado sob a forma integral. Este processo inicialmente foi adotado com métodos rudimentares, cozendo e espremendo uvas com panos e posterior engarrafamento. Estas garrafas eram então conservadas com a colocação de rolha de cortiça e cera, sendo depois fervidas em água para matar as leveduras presentes e assim evitar a fermentação. Em 1869 Welch fabricou este sumo e deu-lhe o nome de “Dr. Welch´s unfermented wine”, em 1902 já o seu filho faria crescer o negócio para 3000 toneladas de uvas processadas. (Morris J.,1998)
Em Portugal a produção de sumo de uva tem vindo também a crescer, o maior transformador de fruta portuguesa (Indumape) criou recentemente uma nova unidade que aumenta a produção e exporta cerca de 90%. Esta empresa comercializa sumo concentrado de uva branca utilizando as técnicas de processamento: Filtração, Sulfitação, Concentração, Pasteurização. De acordo com a nuticionista Fávia Cyfer, o líquido passa por um processo onde tem sua temperatura elevada a cerca de 80C, produzindo assim mais compostos antioxidantes.
Morris explica a influência na qualidade dos diferentes fatores associados à obtenção do sumo de uva, a sua composição tem sido estudado atentamente. A casta com mais tradição nos E.U.A. empregue para sumos é a Concord e esta casta foi das primeiras a ser alvo de análise. Ela contém açucares como a glucose, frutose e sacarose; e ácidos não voláteis como tartárico e málico. A qualidade do sumo de uva depende largamente do nível de açucar, ácidos e de constituintes de aroma como o antranilato de metilo (aroma típico de uvas) e outros voláteis e fenólicos. Mudanças que ocorrem durante a maturação das uvas. A cor do sumo de uva é outro dos aspetos importantes, sendo dependente dos pigmentos localizados na película e variam de casta para casta. Uvas brancas contêm pigmentos como carotenoides e clorofila. Em geral, à medida que a uva amadurece o teor em açúcares e cor também aumentam e os ácidos diminuem; sendo por isso variável com o clima, tipo de solo, casta, método de recolha das uvas- variando também de ano para ano.
O método de processamento do sumo de uva tem evoluido, atualmente são utilizadas diferentes tecnologias como prensa quente, prensa fria sendo que o método de prensa quente faz com que sejam obtidos mais sólidos. O método de prensa fria não emprega a utilização de enzimas pectoliticas que facilitariam a extração da cor, como utilizado no método de prensa quente. (Morris, 1998)
O sumo de uva concentrado é um produto bastante utilizado e consiste em sumos com cerca de 65º ou mais de grau Brix, sendo usados para adocicar outros alimentos ou para ser diluido. A concentração pode ser obtida com um evaporador em filme, que pode ser ascendente ou descendente, pratos evaporadores, por centrifugação ou utilizando frio (aproveitando as diferenças de congelamento da água e sumo). (Morris, 1998)

O sumo de uva integral, tipo de sumo apresentado na sua concentração e composição natural sem adição de açucar, é um produto bastante procurado, de acordo com Rizzon L. E Meneguzzo J. (2007) o processo de transformação de uvas em sumo integral tem alguns processos muito parecidos aos de produção de um vinho, em seguida expõe-se com mais pormenor tal como esquematizado pela figura 1.: As uvas entram num desengaçador esmagador e para impedirmos a fermentação alcoólica devemos neutralizar imediatamente as leveduras por aquecimento. Após o esmagamento o mosto é homogeneizado e “Termomacerado” num recipiente próprio para o efeito. O aquecimento para além de impedir a fermentação alcoólica também tem função de extração de cor e compostos fenólicos prevenindo também alguma oxidação. A temperatura deve ser superior a 65°C não ultrapassando os 90°C. Esta maceração tem uma duração de 1 a 2 horas. O passo seguinte será a adição de enzimas, neste caso pectinolíticas que vão ajudar a clarificação do mosto. De seguida vem a separação da fase sólida e líquida e prensagem da sólida. Este processo pode ser realizado num esgotador dinâmico, onde normalmente por gravidade acontece a separaçao da fase líquida da sólida. A fase sólida segue para uma prensagem suave de modo a que o mosto não fique com um gosto demasiado herbáceo. Posto isto o mosto está pronto a ser clarificado normalmente com uma despectinização. Pode fazer-se também filtração (filtro terras) caso o grau de turvação seja elevado. Outro cuidado a ter é também a estabilização tartárica. A despectinização e a estabilização tartárica podem também ser processos de estabilização do sumo enquanto a filtraçao é só de clarificação. O próximo passo será então a pasteurização e os fatores que vão influenciar a temperatura a que esta irá ser realizada serão o Ph e o tipo de microorganismos e bactérias. Deve fazer-se uma contagem do número de leveduras e bactérias para determinar qual a temperatura mínima necessária para a morte dos mesmos e a partir daí calcular a temperatura e o tempo de pasteurização. Procede-se ao engarrafamento, tendo o cuidado de fazer análises físico-químicas e sensorias do produto final antes da realização do mesmo.
Em relação ao armazenamento o sumo deve ser conservado em local seco, humidade relativa de 70% a 75%, com uma temperatura controlada de 12°C a 15°C, isento de cheiros desagradáveis, ventilado e sem incidência de luz solar.

Recomenda-se que em armazém o produto esteja empilhado com as garrafas deitadas separadas por lotes, ano de colheita e proveniência da uva.

Por: João Costa; Fernando Vieira

Sem comentários:

Enviar um comentário